Livro exalta africanidade, resgata memória coletiva e alerta para a perda do hábito de leitura
O escritor moçambicano Tomás Jaime Langa apresentou recentemente, em Pemba, a sua mais recente obra literária em prosa poética intitulada Passado Futurista. O livro faz uma profunda reflexão sobre a africanidade, a negritude e as vivências culturais do continente, destacando o valor das tradições, dos saberes ancestrais e da identidade colectiva africana.
Segundo o autor, a obra é um convite à crítica, à reflexão e ao fortalecimento do ser moçambicano e africano. “Ler esta obra é um passo gigantesco no amadurecimento, na maturidade, na formação, na edificação de um moçambicano cada vez mais crítico no saber, crítico no fazer, crítico na participação de tudo a que tem direito”, afirmou escritor.
Passado Futurista transporta o leitor para os finais dos anos 70 e princípios dos anos 80, época marcada pela euforia das independências africanas e pelas primeiras políticas de construção do chamado homem novo. Para Langa, essa viagem literária é uma forma de resgatar a memória coletiva e valorizar uma era em que a cultura, a literatura e o pensamento crítico eram pilares fundamentais para a reconstrução das sociedades africanas.
O escritor lembra que, no passado, as palavras e as letras tinham poder transformador. Hoje, porém, observa com preocupação a redução do espaço da leitura e da escrita na vida dos moçambicanos.
"O moçambicano vai perdendo o gosto pela leitura, pela escrita. Escrevem melhor os nossos avós do que escrevemos nós, escrevem melhor nossos bisavós do que escrevem os nossos filhos”, lamentou.
Num discurso carregado de simbolismo, Langa defendeu a importância de preservar o conhecimento africano como forma de afirmação cultural e resistência às imposições externas.
"Vamos pisotear aquele botão do resgate do conhecimento africano e moçambicano. Quem sabe, daqui a 100 anos, voltemos a dominar o mundo como outrora, com Mussabimbique, o homem mais rico que já existiu, e a Universidade de Tombuctu. O nosso silêncio não significa timidez, nem burrice, significa respeito, educação e valorização do nosso saber e do saber dos outros.”
Diferente de outras obras do género, Passado Futurista destaca-se pelo uso de personagens reais, algumas ainda em vida, que moldaram a visão e a formação do autor. Para Langa, essa escolha dá autenticidade ao texto e aproxima a literatura da vida concreta.
"O processo evolutivo exige que valorizemos os contemporâneos. As personagens que menciono não são imaginárias. Foram pessoas que moldaram o meu ser e a minha forma de pensar”, explicou.
Durante o lançamento, amigos e familiares prestaram homenagem ao escritor, recordando a sua trajetória e a convivência em diferentes momentos da vida.
"No meu entender, a obra que ele concebeu contribui de alguma forma na construção do homem. Para mim e para a minha família, é uma honra fazer parte do que vem escrito no livro. Para além de ter jogado futebol com Langa, convivi com a sua família, conheci os seus pais e partilhei momentos de união e amizade. Esses laços estão agora registados também nesta obra”, disse um dos participantes.
Para Tomás Langa, Passado Futurista não é apenas um livro, mas uma herança cultural que deverá atravessar gerações. A obra pretende alcançar filhos, netos e bisnetos, reforçando que a literatura continua a ser um poderoso instrumento de preservação da memória coletiva e de valorização da identidade africana.(MRTV)

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